terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cartas

Boa noite...

Cá estou eu novamente, mergulhada em devaneios noturnos. Tenho me abstido de escrever, mediante ao fato qual, alguns dos que lêem não compreendem, a verdadeira natureza doque me faz escrever.

Mas nesta noite, eu faço uma pequena pausa, para relembrar uma carta.

Hoje, durante a vistoria dos itens lançados em meu reino, os sonhos perdidos, sentimentos soterrados, alegrias esquecidas e desejos não realizados, eu encontrei algo que muito me atraiu a atenção...

Um pequeno molho de cartas.

Sim, cartas.

Longos e detalhados textos, escritos à mão, de uma pessoa para outra. Costume de um tempo anterior ao famoso e-mail, e telefones celulares...

Eu realmente gosto de ler estas cartas... Algumas vem com declarações de amor, muitas vezes nunca entregues... Outras são livros inteiros, que nunca chegaram a uma prensa, ou como chamam agora...? Ah sim! Uma impressora... Outras são cartas de odio, que foi dissolvido, e algumas que vem escrito "Carta de Demissão" ou "Carta de admissão".

Essas ultimas pouco me interessam na verdade.

Mas o pequeno conjunto de paginas que chegou às minhas mãos hoje, não se enquadra nesta categoria... Eram papeis amassados, rescendendo à lagrimas. Desamassei as paginas cuidadosamente, esperando ver mais uma carta de amor perdido, ou amargurado...

Qual não foi a minha surpresa, em ver que se tratava de uma simples carta de comunicação. Paginas escritas com uma letra lastimável, diga-se de passagem, e ao que parece ser, de uma amiga, para a outra.

Neste pequeno conjunto, da qual eu só obtive os textos de uma delas, com longos intervalos de tempo entre si, eu pude ter uma pequena perspectiva da juventude nos dias de hoje.

Adolecentes... Conversando sobre garotos, e familia, e jogos dos quais nunca ouvi falar... As lágrimas no papel pareciam recentes, enquanto as datas já contam alguns anos... Palavras sentidas, e preocupadas com a outra moça, a qual ela declara encarecidamente de "Mana".

Só me resta imaginar quais foram os motivos para ela escrever essas palavras. É curioso, ja que elas parecem falar sobre computadores, e telefones, sobre a "Mana" gastar toda a mesada dela em "créditos" para se falarem, apesar de eu não compreender bem doque se trata...

Sem conseguir conter a curiosidade, corri para as Moiras, para tentar entender melhor doque se tratava aquela carta. Depois das cartas passarem de mão em mão pelas três irmãs, elas me mostraram dois fios.

Cloto me mostrou que no começo, essas duas moças foram grandes amigas... Se conheceram e se tornaram unidas, mesmo com a distância... Compartilharam alegrias, dificuldades e tristezas, uma da outra, uma suportando a outra, não importa onde estivessem. Dois fios que se entrelaçavam de uma forma muito bonita de se ver...

Laquesis me mostrou o fio no tecido, no qual em alguns pontos, ambos os fios pareciam esgarçados e perto de arrebentar, mas mesmo assim continuavam juntos. Quando eu a questionei, sobre os pontos mal cerzidos, ela respondeu "Oras... elas não quizeram se separar! O tecido esgarçou de tanto que elas puxaram para se manterem juntas! Veja esta ponta, uma delas fez uma senhora bagunça em todos os fios que entrelaçam o dela só para poder continuar ao lado da outra... E a outra também fez isso em outros pontos!! Não posso tecer direito assim!!" Quando eu vi ela começando se agitar, me afastei... Ninguém quer aborrecer as irmãs do destino certo?

Dei-me por satisfeita, e me virei para ir embora, quando Átropos, tocou o meu ombro. "Não quer que eu te mostre oque está acontecendo agora?"

Como Átropos geralmente aponta o fim, decidi acatar oque ela diz... Então ela me mostrou os fios das moças no tear. Para a minha surpresa, eles corriam separados! E apesar de separados, um possuia resquicios do outro, deixando-os coloridos, apesar de parecerem bem gastos. Estendi a mão para um dos fios, e pude ver, a dona das cartas, arrancando as folhas das paginas de um caderno de rascunhos antigo, com lágrimas correndo pelo rosto.

"Rascunhos" eu pensei. Então era por isso que estas cartas chegaram até mim. As verdadeiras cartas foram enviadas, mas os rascunhos chegaram a mim, não como a mensagem, mas como a lembrança.

A moça, saudosa da amiga, não suportara ler os rascunhos das antigas conversas... Antiga amizade. Tamanho o amor entre elas. Jogara fora os rascunhos, para depois, ir escondida, ler as cartas recebidas pela amiga, ainda guardadas, com todo o carinho. Perguntei para a terceira irmã se este era mesmo o fim, e ela sorriu dizendo que não.

"O Fim disso, eu não posso definir, minha Senhora. Eu determino o tempo de uma vida... Não o tempo de um Amor, ou de uma verdadeira Amizade. Isso, apenas elas podem dizer se acabou ou não."


Curioso não?

Fiquei tocada por este sentimento entre amigas... E não pude resistir escrever sobre ele... Daqui para frente, vou visitar as Moiras com mais frequencia... Quem sabe algum dia, eu possa escrever aqui, o final desta história...

Perséphone Moriat