domingo, 19 de agosto de 2012

Lágrimas de Sangue

Boa Noite...

Nesta noite silenciosa, enquanto tecia calmamente sob a luz do luar perdida em devaneios, me encontrei indagando, algo que há algum tempo eu gostaria de saber... Qual é o problema do ser humano com as lágrimas?

É curioso, como muitos fazem questão de exibí-las, e outros fazem questão de silenciá-las. Ao longo dos séculos, pude observar as diversas nuances que as trazem à tona. Devo admitir, que as lágrimas, são um veículo de liberação de dezenas de emoções. Sejam sutis ou arrebatadoras, elas sempre se fazem presentes. Seja por desejo, desespero, saudade, dor, raiva, alegria ou amor.

Ora, as lágrimas já nascem com o ser humano. São o primeiro suspiro de um bebê, o sinal de que está tudo bem... Elas escorrem contra a vontade do mais forte, e marcam a dor daquele que sofre... Alguns tem receio delas. Outros fazem questão de contabilizar, cada gota derramada por outrem. Existem aqueles que se gabam de poder fazer uso delas a hora que bem entenderem, como bons atores, esperando por aplausos de algo falso, e existem aqueles que preferem a morte à deixar-se serem vistos com elas. Existem também aqueles que não sabem usá-las.

Este ultimo caso, é o que mais me chama a atenção. Acho curioso, como um ser humano é capaz de ignorar algo que nasce com ele. Sejam dons natos os quais nunca chegam perto de testar sua capacidade, sejam gestos simples, como demonstrar candura, ou lágrimas. É intrigante, a força que o ser humano faz para ir contra oque lhe é nato. Vi por alguns anos, a força que a humanidade fazia para padronizar seus impulsos. Através de regras e leis ignorantes e tolas, eles se restringiram de alimentos, alegrias, atividades, amores... Quantos não pereceram, silenciando amores considerados impróprios, dos quais muitas vezes sequer ousaram deixar uma lágrima rolar por tal dor?

Vejo muitos dos quais, por conterem as lágrimas tão fortemente, extravasam em forma de raiva e ódio sobre outras pessoas, e sobre si mesmos. Seja ferindo aquele que lhe é próximo com palavras e gestos, ou à si mesmo com navalhas e tiques, o ser humano não consegue conter aquilo que é tão enraizado em sua matriz... O Impulso.

Por mais controlada e contida que seja a pessoa, em algum momento, ela dá vazão à essa necessidade. Alguns pintam, outros escrevem, outros praticam esportes... Existem também aqueles que dão vazão à essa necessidade de forma destrutiva, ferindo outros, seja fisicamente, emocionalmente, ou fatalmente.

Quantos poetas gravaram em centenas de versos, oque lhes trazia lágrimas aos olhos? Quantos corações partidos, choraram até não haverem lágrimas à se derramar, e mesmo assim continuaram chorando por dentro, cujo impulso de chorar era maior que a sua capacidade humana? Quantos choram escondidos ou acompanhados, depois de uma ou duas taças de vinho, que lhes quebram as barreiras que eles mesmos constroem ao redor dos olhos e da voz de seu coração?

Quantos se proíbem de tal alívio, trincando os dentes e batendo no peito com força, negando sua própria natureza humana? Você aí, que está lendo... Também se nega esse momento?

Eu vejo a diária luta daqueles que engolem certas emoções. Alguns abdicam dos sentimentos, permanentemente, em busca de não ter que enfrentar suas próprias lágrimas. Alguns as engolem silenciosamente, na ilusão de que se fizerem força o bastante, em algum momento, elas deixarão de aparecer. Alguns são obrigados a escondê-las, por acharem-se fortes demais, ou fracos de mais. E oque fazer quando se cansa de lutar? Porque lutar contra si mesmo? Por acaso não sabem se amar? Tamanho é o tormento de lidar com sua própria mente, seu próprio coração que preferem silenciá-los para que possam viver a ilusão de que está tudo bem?

Há poucos dias, ví uma jovem, sentada à beira de uma cachoeira. Seu olhar era triste, os cabelos loiros balançavam suavemente com a brisa, a qual ela parecia ignorar... Enquanto uma mão segurava algo que eu não podia ver, a outra corria nervosamente pelo pescoço, cujas unhas delicadas passeavam pela nuca dando voltas em fios mais curtos de cabelo apenas para arrancá-los de sua própria pele. Hábito estranho, pensei comigo mesma. Ao me aproximar, pude examiná-la melhor. O rosto, perfeitamente maquiado, tinha um ar infeliz. Como uma princesa desiludida, ela observava seu próprio reflexo na agua como se ponderasse algo profundo. Sem notar a minha presença, ela suspirou e cobriu o rosto com as mãos, mas eu não esperava oque veio à seguir. Depois de alguns minutos nessa posição ela exalou exaltada.

"Oquê há de errado comigo?"

Curiosa sobre oque fazia aquela criança tão infeliz, toquei-lhe o ombro, fazendo-me presente. Ela então mudou completamente o seu rosto, de um olhar abalado para um sorriso juvenil, e me saudou. Quando lhe questionei sobre oque a aborrecia, o sorriso morreu.

"Er.. bem, eu...eu não consigo chorar..."

Eu me pergunto, como eu encontro tais criaturas. Numa caminhada tranquila, eu consigo encontrar os mais diversos tipos de conflitos, que um ser humano pode enfrentar. Chamei-a ao meu palácio, e ao longo do caminho pudemos conversar. Qual não foi a minha surpresa, em saber que aquela jovem realmente se tratava de uma princesa. O andar, sua forma de falar, pequenos hábitos... Escondidos sob uma luz sutil de beleza e inocência, que emanava dela. Como princesa, aprendera a sempre se mostrar forte, um exemplo a ser seguido, que mesmo frágil e delicada, podia ser sábia e independente. Porém, para demonstrar tal imagem para quem amava, ela engoliu silenciosamente cada uma de suas lágrimas. E agora, que seu tempo de reinado havia cessado, ela se encontrava solitária e triste, mas nem que assim quisesse, podia trazer suas lágrimas aos olhos. Por maior a dor que sentisse, ela mantinha-se passiva, e silenciosa, mesmo quando não havia ninguém para vê-la sorrir.

"É a pior coisa que existe" Ela disse. "Desejar deixar a dor sair e ser incapaz de fazê-lo"

Por algum tempo, observei a dor desenhada em seus olhos, perfeitamente contornados, sem um traço de paz sobre eles. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Ela erigira essa muralha sozinha, e só ela poderia rompê-la por dentro... Ao chegarmos ao meu lar, pedi que meu marido deixasse ela permanecer sob meus cuidados, que com um suspiro ele assentiu. Acho que em algum momento ele haverá de se habituar, com meu desejo de cuidar daqueles que vagam perdidos aqui.

Foi-lhe preparado um quarto próximo ao meu, e mandei-a repousar. Depois de tanta dor suprimida, ela precisava descansar. Imaginei que ela levaria algumas horas nisso, e fui para o hall, ouvir aqueles que traziam a mim seus pedidos. Qual não foi a minha surpresa, que pouco depois de eu abrir as portas para os pedidos, Mayra, a criada que deixei para cuidar da princesa invade o salão.

Pouco tempo depois, encontro-me no quarto que fora lhe designado. A jovem, vestida num belo linho róseo, estava sentada na sacada, com o olhar perdido na imensidão dos submundo. O chão de mármore negro não reluzia como deveria. A luz refletia limpidamente do piso liso, mais próximo à princesa, podiam ser vistas pequenas gotas espessas de mais para serem agua. Quando me aproximei, pude ver o vestido manchado com sangue, que corria em perolas rubras, em direção ao piso negro. Haviam cortes finos escondidos sob a manga, centenas deles, já cicatrizados, e um novo e profundo, do qual a vida lhe escapava suavemente. Ela brincava com um pequeno pedaço de vidro entre os dedos e o revirava graciosamente como se lhe fosse natural. Vendo-o cintilar sob a luz da noite, por um breve segundo, eu pude pegar o vislumbre de uma íris vermelha como o sangue que observava atravez daquele espelho.

Quando toquei a ferida, para cura-la, ela me impediu.

"Você não vê? Meus olhos são defeituosos, e as lagrimas não saem por eles... elas tem que sair por algum lugar..."

Estupefata, deixei o quarto, e me retirei para tecer... Isso me ajuda a pensar... Depois de tanto tempo, represando as lágrimas que manchariam aquele rosto, ela agora encontrava paz vertendo lágrimas de sangue... Como a humanidade conseguiu chegar até onde estamos vivendo, se torturando dessa forma? Se negam emoções, sentimentos, prazeres... Viver... Vivem atravez de enigmas e conflitos, sem nenhuma lógica, ou intenção, até o ponto em que a alma não consegue mais ser represada, e nisso explodem e destroem-se sozinhas, deixando centenas de cacos e estilhaços à recolher e definhar. Minha mãe julga a humanidade sábia... Eu... Eu não consigo compreendê-la.

Eu realmente gostaria de entender... Qual é o problema do ser humano com as Lágrimas?

Perséphone Moriat

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Aprendendo a dizer Adeus...

Boa Tarde...

Faço mais uma vez, uma pausa para observar a Terra e meus protegidos... E mais uma vez, seus conflitos me atormentam. Sim, humanos atormentam Deuses com quase a mesma frequência que Deuses atormentam humanos... É um ciclo suave e equilibrado, e deveras enfadonho. Mas isso não vem ao caso..

Humanos... Eu gostaria de compreendê-los melhor. Mas já me foi pontuado, que por causa de minha imortalidade, eu jamais os compreenderei totalmente.

Através dos séculos, eu os observo cuidadosamente, de cima do Olimpo, e de perto no Submundo... Assisto silenciosamente, sua passagem entre a vida e a morte através das eras... Seus erros, seus sonhos, seus desejos... Ao lado de minha mãe, escuto seus pedidos e preces, e quando findados os meus dias no Olimpo, eu retorno ao lar do meu esposo no submundo. Enquanto caminho circundando este planeta, atravessando continentes e povos minha chegada traz alegria. O primeiro vislumbre de uma flor depois do tempo nevado ainda aquece corações, e faz sorrir o mais inocente. Existem centenas de datas festivas, dedicadas a celebrar minha passagem, muitas até hoje comemoradas, muitas esquecidas, que ainda me fazem desejar caminhar sobre a terra de Gaia.

Mas em minha caminhada, contínua e eterna, assim como eu chego eu também tenho que partir. Para alegrar outra raça, devo deixar aqueles que tanto se alegraram com a minha presença, e muitas vezes com a minha partida, também vem o pesar. Eu me alegro de retornar àquele quem amo, e poder reinar ao seu lado. Ocasionalmente, o pesar e a saudade de dançar junto as ninfas me faz sufocar uma lágrima, mas aqui, posso trazer a paz e a tranquilidade para aqueles que já não sabem parar de chorar. Como esposa do senhor do submundo, meus deveres são tão pesados quanto ostentar a primavera sob meus passos. E é exatamente com o pesar onde meu trabalho como Senhora dos Mortos começa.

Porque existe a partida? Porque se despedir?

De todas as bravatas escancaradas aos quatro ventos e sobre os sete mares, esta sempre é a mais sofrida. Porque o adeus?

Eu já vivi mais despedidas que qualquer humano poderia suportar... A vivencia como Deusa é pesada sobre os ombros, e nos faz indiferentes à certas dores... Mas posso dizer sem duvida, que a dor do Adeus é a pior que um ser humano pode enfrentar...

Eu assisto silenciosamente, a compulsão humana de culpar alguém por isso. Poder dizer, ele é o culpado, ela é a causa. Na falta de um culpado vivo, isso deixa de ser físico ou material... Quantas vezes senti as lagrimas de senhoras, dando o ultimo acalento à seus natimortos, consolando-se na máxima "Foi assim que Deus quiz". Chego a me perguntar se, sequer pensam naquele que se foi, sem pensar em si mesmos.

Por muitas vezes, acompanho um amigo do qual fiquei muito próxima, Thanatos, a buscar aqueles que se recusam a seguir o caminho de volta para o reino de meu marido... São fáceis de encontrar... Ficam as voltas de seus entes queridos, sem o desejo de se despedir, ouvindo os lamentos e as dores daqueles que ficaram para traz. Em todo mundo, existem muitas formas de dizer adeus. Alguns mantêm pequenos altares em casa para aqueles que perderam, outros fazem procissões inteiras, funerais, festas, reuniões de lamentos, momentos de silencio. Centenas lembram-se de seus amados diariamente, e me aborrece ver que muito disso é incentivado.

Não me entenda errado, é normal sentir-se saudoso daquele que um dia você amou, e não encontrará novamente. Artistas fazem sucesso com canções, peças, quadros, que retratam sua dor, simplesmente por representá-la, e as pessoas se aproximam disso, por sentir-se da mesma forma. Eu entendo a nostalgia da lembrança, daquele que caminhou ao seu lado. O que eu não compreendo, é o egoísmo daqueles que perderam seus amados, e se lamentam por estarem sós. Não entendem, que quem partiu também não está feliz de deixá-lo? Quantos estenderam ao seu máximo seus dias, apenas para estarem com quem amavam? Cumprir promessas? Completar todos os tipos de tarefas, silenciosamente, apenas para garantir que aqueles que amam vão estar calmos e seguros após sua partida? O egoísmo do ser humano me aborrece, profundamente.  A idéia de perder alguém que amam é tão perturbadora que eles não conseguem aproveitar os últimos dias em sua compania. As tão ditas religiões não ajudam muito nisso... Algumas ajudam, outras pioram. O medo de não saber oque os aguarda após o ultimo suspiro causa tanto caos em suas mentes que os faz destruir a si mesmos.

Entre meus protegidos, eu vejo todos os tipos de Adeus.

Adeus entre aqueles que seguem caminhos separados, apesar de se amarem.
Adeus entre aqueles que deixam de se amar, e apesar de seguirem o mesmo caminho, já não estão juntos.
Adeus entre aqueles que vivem e morrem.
Adeus entre aquele que evolui e oque fica para traz.
 Adeus entre pais, irmãos, avós, tios e primos.
 Adeus causados por guerras e ódio.
Adeus causado por dor e mágoa.
O Adeus silencioso das decisões que poucos ficam cientes.
Adeus daqueles que se lançam em nossos reinos por vontade própria, deixando para traz bilhetes e pessoas por amar.
Adeus à saúde, quando escolhem o vício.
Adeus à liberdade, quando escolhem silenciar.
Adeus de oportunidades, de chances, de amores que poderiam ser, e não o são.
Adeus ao amor.
Adeus à vontade de viver.
Adeus aos sonhos.
Adeus à Luz.

Creio que se eu gastasse um éon escrevendo, ainda assim não conseguiria listar todos eles...

Me pesa o coração ver o quanto o ser humano expandiu esse pesar, chamado Adeus. Não é incomum entre meus protegidos, ver aquele que sabe que seu fim se aproxima se desesperar com a ideia de deixar aqueles que ama para traz.

Houve mais de uma vez, aqueles que vieram bater os portões de meus castelos, esbravejando em rompantes de dor, "Por que? Por que? Por quê o tirou de mim?"  ou "Por quê agora?", clamando ver aquele que lhes foi levado embora. Até os mais dedicados dos meus filhos, se encolhe em lagrimas sobre o meu peito, diante a dor do Adeus.

Aqueles que sabem sobre oque lhes resta de vida, são sábios em silenciar sobre eles. Aqueles que não o fazem se arrependem amargamente, pois aqueles que o sabem, e lhes são caros, sofrem mais que o necessário. Certa vez, uma filha me pediu uma solução para a dor daqueles a quem ela incautamente confidenciou oque sabia. Depois de ver o horror se alastrar entre os que a amavam, ela correu à mim, pedindo um jeito de apagar isso... Oque infelizmente, eu não pude lhe dar. Para que ela conseguisse aliviar seus amados de tal dor, eles deveriam também, desejar esquecer. Mas de tão amada, nenhum deles assim o fez. Mas tudo é incerto no tear das irmãs... Nunca se sabe se isso pode ser alterado... Talvez, exista uma chance... Para ela ou talvez para tantos outros... Eu assisto cuidadosamente as irmãs tecendo, cada escolha muda o fio de lugar... Talvez ele não termine onde deveria terminar. Quem sou eu para dizer?

Até aqueles que sabem que vão perder um amor, fazem coisas tolas, com objetivos bobos, de satisfazer aqueles que estão por partir, que normalmente não o fariam. E por mais que eu deseje intervir, meu sábio marido segura a minha mão, e esconde meus olhos doque eu não desejo ver. O triste fim de certas certas escolhas, as enormes guerras que se iniciam, por motivos tão simplórios. Eu já estou cansada de assistir a esse tipo de dor. Tudo oque posso fazer, é aguardar a passagem da criança por meus portões... Enxugar suas lágrimas, abraçá-la, tentar acalmar seu coração... Mostrar que aqueles que a amaram vão continuar caminhando, e que ela pode ficar tranquila, e aguardá-los em nosso reino, se assim desejar. É uma das minhas maiores alegrias aqui... Cuidar dos campos de Asfodéleos, e assistir o regozijo daqueles que se reencontram, entre os que ficaram e os que aguardaram, por tanto tempo...

Quando é que a humanidade vai aprender a dizer Adeus?
Eu realmente gostaria de saber...

Perséphone Moriat

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Festival das Sakuras


Um festival dedicado à celebrar a primavera, que costuma ser marcado pelo florescer das cerejeiras no japão.
Sua beleza é considerada rara, devido ao fato das arvores florescerem apenas uma vez por ano... As flores, só duram de 7 a 10 dias, oque faz com que o povo do japão, ou os mais tradicionais pelo menos, pare tudo, só para observá-las. Essa tradição é chamada de Hanami - Observar as Flores  -.

Houveram varias apresentações de dança tradicional, taiko, e cantores. Eu posso não entender japonês, mas vi varias pessoas emocionadas com algumas canções.

Eu sempre fui curiosa sobre essa tradição, e confesso que quando cheguei no parque, eu compreendi um pouco do fascínio que o povo japonês tem pela cerejeira. No Parque do Carmo, existe o Bosque das Cerejeiras... E eu posso afirmar que é um dos lugares mais belos que eu poderia ver... Acho que eu apreciaria melhor se ele não estivesse tão cheio, mas devido a escassês de tempo e a delicadeza da beleza em cada detalhe que recobria aqueles galhos, eu acho que posso abrir uma excessão... A primeira coisa que se via na entrada do bosque, contornado por uma cerca de madeira delicada, é um aviso dizendo "Não arranque as flores. Não balance as arvores." Que obviamente todos ignoravam... Encontrei dois pequenos galhos, que alguém havia arrancando e descartado e acabei trazendo-os comigo... Acho que passei algum tempo colhendo flores caídas das arvores... estão guardadas num lenço, não tenho a menor ideia doque fazer com elas, mas eu não consegui evitar... A sutil beleza vinda delas era tão impactante que cria o desejo de guardá-la. Eu compreendo aqueles que colheram ramos e levaram para suas casas... Se eu pudesse eu acho que trazia uma arvore inteira... A quantidade de detalhes, que advém de uma pequena flor é extasiante.

É impossível descrever algo tão profundo, e ao mesmo tempo, tão simples. Olhando simploriamente, não há nada de mais. Arvores, recobertas de pequeninas flores rosas, no bosque são mais claras beirando o branco, enquanto em outros pontos do parque existem aquelas com tons mais fortes. Não são muito altas, cujo tronco fino atribui um senso de delicadeza débil e frágil. Despida de folhas, a Cerejeira se recobre de flores numa exuberante demonstração de beleza e serenidade. As flores, do tamanho de uma moeda, são mais graciosas em seu minimalismo, com suas pequenas cinco pétalas, em tom claro e pistilos em tons mais escuros, sem o toque de qualquer outra tonalidade por toda a extensão da flor. Por algum motivo mágico, essa pequenina flor faz como que você queira observá-la por horas a fio... e mesmo assim, cada segundo não é perdido.

É incrível a sensação de pureza que um ambiente como esse transmite. Por mais cheio que estivesse, quando eu estava perdida entre as arvores esquadrinhando o chão através de flores derrubadas pelo vento, eu me encontrava ouvindo o silêncio. Por mais que eu olhasse em volta, e avistasse um grande numero de pessoas, eu percebia, a paz e o silencio que aquele local evocava.

A Solenidade, vinda de algum lugar do aether, se fazia presente, pelo menos para mim. E eu acho que é esse o espirito que invade o povo japonês, fazendo como que eles celebrem e comemorem esse momento tão divino.

Acho, que tudo oque posso dizer, é que foi uma honra poder presenciar algo tão belo...

Perséphone Moriat

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Shadow of the Heart

Boa Noite....

É incrível como o sangue dos poetas vibra em nossas veias, quando somos afligidos pelas mais diversas sinas do cotidiano mortal. Não importa quanto tempo passe, eu ainda percebo o mundo como um ser errante como os homens fazem sobre a terra... Talvez seja melhor assim. Assim posso compreendê-los melhor.

Meu amor pela raça é incondicional... Humanos, por mais relapsos ou distraídos que sejam ainda merecem o meu amor, e o meu acalento quando chegam a meu reino. Não importa quantos Eons se passem, eu ainda me surpreendo como o ser humano acha, por muitas vezes difícil lidar com as sombras de sua alma...

Creio eu, na minha singela opinião de observadora, que se cada homem e mulher, que vive errante sobre o reino Gaia, aceitassem suas sombras e não as temesse, ou expurgasse, viveria de forma mais plena e me atrevo dizer, feliz.

É surpreendente, a quantidade de coisas que fazem para fugir de suas sombras... Eu como Deusa não nego as minhas, por que haveria um mortal de fugir das suas próprias? Não conseguem ver que só suas sombras podem ensiná-los a viver?

Oradores, doutores, médicos de todas as variedades e conhecimentos, livros, apoios, pessoas, drogas, violência, arrependimento, contrição... Uma coisa que até me trava os dentes, "Terapeuta". Quantas opções para apenas um problema? Tudo isso para negar sua própria sombra, seu lado oculto, aquilo que a sociedade declara condenável. Coisas que em eras deixam de ser condenadas e sim vangloriadas, e os antigos valores, por mais belos que fossem, são suplantados. E oque resta? Uma infinidade de dores e mágoas, almas lamentosas e impedidas de repousar, por engolir tão profundamente seu lado negro que ele se torna venenoso e os corrói por dentro.

Por muitas vezes presenciei o confronto, entre luz e trevas, uns com mais luz, outros com mais trevas, outros com tão pouco de um e de outro que mal se faziam notar...

Mas oque me fez parar minhas obrigações hoje, foi uma amada minha. É uma jovem criança... Não há conhecimento ou sabedoria o suficiente para ela... Olhar o mundo como se olham os Deuses, ela diz o tempo todo... Tola criança... Nós Olimpianos somos tão sábios como prepotentes, o preço da sabedoria é cruel para um ser humano... Nós levamos centenas de eons para compreender a complexidade da criação do pai Zeus... Particularmente ainda acho que ele não esperava que os homens fossem tão longe... Mas isso é tema para outra hora...

Fui surpreendida pelo chamado de minha pequena... Ela estava no lugar de sempre, na escuridão de sempre... Me entristece muito, ver que ela se encontra naquela escuridão. A luz dela foi arrancada em tenra idade... Ela não sabe como trazê-la de volta para si... Ela apenas sente o calor da luz à sua volta, e tenta manter-se próxima... Ela sente falta de sua própria luz... Mas já aceitou sua partida, e viveu seu luto. Na busca por luz, ela aprendeu muito sobre como fazer a luz brilhar mais forte... Mas nada sobre como fazer a sua própria novamente.

Extasiada com esse conhecimento, ela começou a usá-lo para ajudar aqueles que a amavam, expandindo sua luz, e logo ela se viu envolta em luz... Num momento de distração, ela acreditou que havia reencontrado sua luz... Até que sua mãe lhe mostrou a realidade... Que todo aquele brilho que ela via, vivia e sentia, eram reflexos de seu trabalho, laborioso e dedicado, mas ainda não era a sua luz... Então minha pequena ruiu...

Desde então ela se oculta nas sombras, fazendo de si mesma uma delas... Seu lado negro não a domina, por que ele mesmo não tem a mesma força sem sua luz. Ela ainda caminha entre seus amados, oferecendo sua ajuda e conhecimento, tornando a luz daqueles que precisam mais forte e mais estonteante... Mas ela mesma já não a deseja, não procura mais, a sua luz.

-"A luz é algo doloroso"- A ouvi sussurrar uma vez. - "Não a quero mais"

Tais palavras me partiram o coração, ao ver que tão jovem havia abandonado oque existia de melhor nela. Quando a questionei, ela se atirou em meus braços esperando que a trouxesse para o submundo. Mas ela ainda tem tanto à viver... Depois de algumas tentativas consegui convencê-la a continuar, mas não consegui fazê-la entender o porquê dela precisar de luz.

-"Eu já dou o melhor de mim, com ou sem luz"- Respondeu amarga.

E assim ela vive no limiar... Entre luz e trevas, reconhecendo ambos, mas sem tomar parte de nenhum.

Hoje quando me chamou, jazia novamente oculta entre sombras... Pálida, com olhos fundos e oblíquos, ela parecia ter descoberto alguma coisa...

-'Sou uma sombra" ela sussurrou. -"Não sou uma pessoa, sou uma sombra! Por que não me contou antes?"

Tais afirmações me confundiram um pouco. Oras, minha amada é uma humana como todos os que entram e saem dos meus reinos... Passei algum tempo ouvindo oque ela sussurrava, com a voz tão escassa que por varias vezes tive que lhe chamar a atenção sobre isso. Pobre criança... Perdida entre luz e trevas, sem saber qual é o seio que a alenta...

É triste ver, como o ser humano não consegue apenas existir... Seria muito fácil, acredito... Ao invés de escrutinar cada segundo em que respiram, e apreciar todo o Reino da Mãe Gaia, eles se degladiam entre pensamentos e ideais, conflitos tolos que desafiam a paz e a harmonia tão prezada por todos nós.

Por que o homem tem a mania de escolher lados? Por que não consegue viver consigo mesmo? Muitos jogam a culpa nos Deuses, mas eu creio que isso é culpa do próprio homem. Se soubessem fazer leis, a governar... A comandar com respeito e a aceitar a todos, não haveria tantos terrores, tantas dores, cujo sofrimento escorre para os meus portões em forma de sangue.

Eu gostaria de poder ajudar minha pequena... Mas ela se coloca além de qualquer ajuda, e é consciente disso... Quem sabe algum dia, ela descubra a própria luz...

Perséphone Moriat

Um comentario apenas...

Boa noite...

Retornar a este blog está se tornando minha pequena peregrinação anual... Depois de muito refletir, compreendi, que apesar de todas as minhas intenções intríncecamente aqui grafadas, nunca atingirão seus reais objetivos, mediante ao fato que por muitas vezes, mortais julgam e condenam sem sequer olhar uma segunda vez... Decepcionada, deixei de transpor aqui, meus pensamentos, já que isso se tornou motivos de questionamentos desnecessários.

Mas como disse, depois de muito refletir, lembrei que esse não era o objetivo desta minha pequena pagina, e sim, aliviar a minha mente do excesso de pensamentos e conflitos, os quais só meu Eu Divino compreende.

Então, cá estou eu, pronta a retomar meus rosários filosóficos, independente de quem, como ou porquê os ler, apenas para deixar minha mente descansar, relatar notas que sejam dignas de lembrança, ou apenas pelo prazer de escrever...


Creio que nos veremos aqui mais vezes... Então até breve, meu caro leitor...

Perséphone Moriat

Fúria

Boa tarde...

Hoje tenho uma pergunta para você.

Você já se sentiu furioso?

Você pode até franzir a testa, coçar o queixo, ou responder prontamente, mas tenho certeza que pelo menos uma vez durante sua jornada entre os terrenos, você ja pôde conhecer pessoalmente oque esta palavra quer dizer.

Talvez você ja tenha ouvido uma vez ou outra o termo "Providência Divina" ou "Amor Divino" e até "Cuidado Divino", mas tenho certeza que ja ouviu falar de "Fúria Divina" na maior parte das vezes em que vê algo ruim acontecer.

Apesar da figura masculina de Deus no ponto de vista cristão ser perfeito, ele fica furioso constantemente. Oque é algo interessante, afinal em teoria um ser perfeito não possui nada de mau. Detalhe, Fúria é algo condenado pelo cristianismo.

Mas estou divagando... Voltando ao tema, alguns dizem que a "Fúria Divina" é o terror dos humanos... E eu devo admitir... Existem momentos em que sentimos vontade de fazer chover pedras de gelo sobre os atrevidos e prepotentes que destroem o planeta sem nem ao menos pensar no que isso pode causar... Er... Tá as vezes fazemos isso...

Isso não chega nem aos pés doque realmente somos capazes. Transformar Medusa na tão temida Górgona foi simples pelo que ouvi, e o rapto que meu marido orquestrou também pode ser considerado brilhante. E aquela intrometidazinha Mint, devia ter pensado 2 vezes antes de ficar se atirando para o meu marido.... Apenas achamos desnecessário o uso de força sobre aqueles que por seus próprios pés se atirarão no fundo de nossas águas... Saibam eles disso ou não.

Mesmo assim, eu ainda fico intrigada com a velocidade que estes rompantes tomam o controle daqueles que são a ele suscetíveis, e que no momento em que tomam o controle causam tamanho assombro. Em alguns casos nos poucos minutos em que destravam os limites etico-sociais dos atingidos, o caos se espalha como poeira lançada ao vento... É impossivel imaginar quem será atingido ou até onde pode chegar.

Por alguns momentos hoje, fui atingida por eles em pequenas doses. Infelizemente elas foram o suficiente para, como dizem, falar de mais.

Felizmente consegui refrear o desejo de ordenar a vinda da pobre alma para o meu reino, onde eu mesma poderia acertar as contas com o dito cujo. Ainda não sei se é Feliz ou Infeliz o fim desta fabula, mas pra mim ainda é bastante infeliz.

Eu admito, eu não sou tão dificil de provocar. Mas mesmo assim não muda o fato de que a Fúria de alguém que vive eternamente não é exatamente algo facil de aplacar. É bem possivel que eu fique remoendo isso os próximos dias... Até penso em chamar Éris e Nemesis para cobrar alguns favores, mas eu acho que isso é desnecessário...

Por agora...

Perséphone Moriat

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cartas

Boa noite...

Cá estou eu novamente, mergulhada em devaneios noturnos. Tenho me abstido de escrever, mediante ao fato qual, alguns dos que lêem não compreendem, a verdadeira natureza doque me faz escrever.

Mas nesta noite, eu faço uma pequena pausa, para relembrar uma carta.

Hoje, durante a vistoria dos itens lançados em meu reino, os sonhos perdidos, sentimentos soterrados, alegrias esquecidas e desejos não realizados, eu encontrei algo que muito me atraiu a atenção...

Um pequeno molho de cartas.

Sim, cartas.

Longos e detalhados textos, escritos à mão, de uma pessoa para outra. Costume de um tempo anterior ao famoso e-mail, e telefones celulares...

Eu realmente gosto de ler estas cartas... Algumas vem com declarações de amor, muitas vezes nunca entregues... Outras são livros inteiros, que nunca chegaram a uma prensa, ou como chamam agora...? Ah sim! Uma impressora... Outras são cartas de odio, que foi dissolvido, e algumas que vem escrito "Carta de Demissão" ou "Carta de admissão".

Essas ultimas pouco me interessam na verdade.

Mas o pequeno conjunto de paginas que chegou às minhas mãos hoje, não se enquadra nesta categoria... Eram papeis amassados, rescendendo à lagrimas. Desamassei as paginas cuidadosamente, esperando ver mais uma carta de amor perdido, ou amargurado...

Qual não foi a minha surpresa, em ver que se tratava de uma simples carta de comunicação. Paginas escritas com uma letra lastimável, diga-se de passagem, e ao que parece ser, de uma amiga, para a outra.

Neste pequeno conjunto, da qual eu só obtive os textos de uma delas, com longos intervalos de tempo entre si, eu pude ter uma pequena perspectiva da juventude nos dias de hoje.

Adolecentes... Conversando sobre garotos, e familia, e jogos dos quais nunca ouvi falar... As lágrimas no papel pareciam recentes, enquanto as datas já contam alguns anos... Palavras sentidas, e preocupadas com a outra moça, a qual ela declara encarecidamente de "Mana".

Só me resta imaginar quais foram os motivos para ela escrever essas palavras. É curioso, ja que elas parecem falar sobre computadores, e telefones, sobre a "Mana" gastar toda a mesada dela em "créditos" para se falarem, apesar de eu não compreender bem doque se trata...

Sem conseguir conter a curiosidade, corri para as Moiras, para tentar entender melhor doque se tratava aquela carta. Depois das cartas passarem de mão em mão pelas três irmãs, elas me mostraram dois fios.

Cloto me mostrou que no começo, essas duas moças foram grandes amigas... Se conheceram e se tornaram unidas, mesmo com a distância... Compartilharam alegrias, dificuldades e tristezas, uma da outra, uma suportando a outra, não importa onde estivessem. Dois fios que se entrelaçavam de uma forma muito bonita de se ver...

Laquesis me mostrou o fio no tecido, no qual em alguns pontos, ambos os fios pareciam esgarçados e perto de arrebentar, mas mesmo assim continuavam juntos. Quando eu a questionei, sobre os pontos mal cerzidos, ela respondeu "Oras... elas não quizeram se separar! O tecido esgarçou de tanto que elas puxaram para se manterem juntas! Veja esta ponta, uma delas fez uma senhora bagunça em todos os fios que entrelaçam o dela só para poder continuar ao lado da outra... E a outra também fez isso em outros pontos!! Não posso tecer direito assim!!" Quando eu vi ela começando se agitar, me afastei... Ninguém quer aborrecer as irmãs do destino certo?

Dei-me por satisfeita, e me virei para ir embora, quando Átropos, tocou o meu ombro. "Não quer que eu te mostre oque está acontecendo agora?"

Como Átropos geralmente aponta o fim, decidi acatar oque ela diz... Então ela me mostrou os fios das moças no tear. Para a minha surpresa, eles corriam separados! E apesar de separados, um possuia resquicios do outro, deixando-os coloridos, apesar de parecerem bem gastos. Estendi a mão para um dos fios, e pude ver, a dona das cartas, arrancando as folhas das paginas de um caderno de rascunhos antigo, com lágrimas correndo pelo rosto.

"Rascunhos" eu pensei. Então era por isso que estas cartas chegaram até mim. As verdadeiras cartas foram enviadas, mas os rascunhos chegaram a mim, não como a mensagem, mas como a lembrança.

A moça, saudosa da amiga, não suportara ler os rascunhos das antigas conversas... Antiga amizade. Tamanho o amor entre elas. Jogara fora os rascunhos, para depois, ir escondida, ler as cartas recebidas pela amiga, ainda guardadas, com todo o carinho. Perguntei para a terceira irmã se este era mesmo o fim, e ela sorriu dizendo que não.

"O Fim disso, eu não posso definir, minha Senhora. Eu determino o tempo de uma vida... Não o tempo de um Amor, ou de uma verdadeira Amizade. Isso, apenas elas podem dizer se acabou ou não."


Curioso não?

Fiquei tocada por este sentimento entre amigas... E não pude resistir escrever sobre ele... Daqui para frente, vou visitar as Moiras com mais frequencia... Quem sabe algum dia, eu possa escrever aqui, o final desta história...

Perséphone Moriat